Dados da PRF indicam aumento da fiscalização contra Lei Seca e queda no número de acidentes
O primeiro trimestre de 2025 registrou uma queda de 5,71% no número de mortes em acidentes ocorridos nas rodovias federais brasileiras, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) também apontam uma redução de 1,67% no número total de acidentes.
Um dos fatores que contribuíram para essa melhora foi o aumento significativo na fiscalização da Lei Seca. De acordo com a PRF, houve um crescimento de 34% na realização de comandos de fiscalização, saltando de 15.854 operações no primeiro trimestre de 2024 para 21.167 no mesmo período deste ano.
O resultado dessa intensificação foi uma redução de 1,87% no número de autuações por constatação de embriaguez e de recusa ao teste do bafômetro. Mais expressiva ainda foi a queda de 16,74% apenas nas autuações específicas por dirigir embriagado.
Para Adalgisa Lopes, presidente da Associação das Clínicas de Trânsito de Minas Gerais (Actrans-MG), os dados mostram que o aumento da fiscalização tem um papel fundamental na mudança gradual de comportamento. “A presença ostensiva da fiscalização cria um efeito dissuasivo importante. Quando o motorista sabe que há grande probabilidade de ser abordado em um comando da Lei Seca, ele tende a repensar a decisão de beber e dirigir”, explica.
A redução de mortes em quase 6% é significativa quando falamos de vidas humanas. “Cada percentual representa famílias que não foram devastadas pela perda de um ente querido em acidentes evitáveis”, afirma Adalgisa.

PRF intensifica fiscalizações da Lei Seca
No entanto, apesar dos avanços, os números ainda preocupam as especialistas. Giovanna Varoni, diretora da Actrans-MG, analisa o comportamento persistente de motoristas que insistem em dirigir após o consumo de álcool. “O que observamos é um fenômeno complexo de negação do risco. Muitos motoristas desenvolvem o que chamamos de ‘viés de otimismo’, acreditando que acidentes só acontecem com os outros”, destaca Varoni. “Há também um componente cultural muito forte no Brasil, onde o álcool está presente em quase todas as celebrações e encontros sociais, criando uma normalização perigosa do ‘só um pouquinho’ ou ‘estou acostumado'”, acrescenta.
As psicólogas ressaltam ainda que o comportamento de risco está frequentemente associado a traços de personalidade específicos. “Pessoas com maior tendência à impulsividade e busca por sensações tendem a subestimar os riscos e superestimar suas habilidades ao volante. É o que chamamos de ilusão de controle, que é potencializada pelo próprio efeito do álcool no cérebro, que compromete justamente o julgamento e a capacidade de avaliar riscos”, explica Giovanna.
Como mudar
Adalgisa Lopes complementa que a mudança de comportamento requer mais do que apenas punição. “Precisamos de uma abordagem multifacetada que combine fiscalização rigorosa, educação contínua e campanhas de conscientização que atinjam o nível emocional das pessoas. Os números mostram que estamos no caminho certo, mas ainda há muito a ser feito”, enfatiza.
A presidente da Actrans-MG também destaca a importância da campanha Maio Amarelo nesse contexto. “O Maio Amarelo tem um papel crucial ao manter o tema da segurança no trânsito em evidência. Precisamos que a sociedade compreenda que dirigir sob efeito de álcool não é apenas uma infração administrativa ou um crime de trânsito, mas uma escolha consciente que coloca em risco vidas inocentes”, conclui.