A Gravidez e o Parto, o frio na espinha!

Eu realmente nem imaginava como seria o meu parto, me preparei para um parto natural, fiz pilates, fisioterapia, conversei com meu médico e estava determinada. No entanto, o nosso corpo comanda algumas situações, nosso medo também nos impede. E quando depois de 5 dias de contrações sem ritmo, dores, e desconforto, meu médico me pediu pra avaliar. Meu bebê estava pronto, mas eu não evoluía naquele processo natural. Então, vamos fazer o parto através da cesárea. Fui muito amada, meu médico foi explicando os passos, eu lembro que fiquei na sala de cirurgia 3 da maternidade Santa Fé. A minha anestesista com todo amor e cuidado disse que seria tudo tranquilo e eu logo iria viver o momento mais profundamente modificador da minha vida! A enfermeira obstétrica, a pediatra, todos muito pacientes e experientes me deram a segurança e a certeza que eu precisava para viver aquele momento tão novo.

image0 1
Já com alguns meses em casa e me provando que ser mãe é um dia de cada vez

O marido estava ao meu lado, ele também estava vivendo uma grande novidade. E eu confesso que eu tinha pressa de sair daquela espera demorada e de, certa forma, sofrida que foi pra mim a gestação. E como a gestação nos ensina: a virtude da Paciência, da Fortaleza e Sabedoria são testadas e cobradas a cada segundo. Não que os hormônios permitam muito, mas é preciso vencer nossa natureza que quer reagir ao menor sinal de “Pitaco” de alguém. Mal sabia eu que isso continua pela vida inteira, inclusive pelas mães que também passam pelas experiências que nós passamos, mas que se julgam mais maduras porque alguns anos separam ela daquele momento. Bem, “Pitaco” não é o tema de hoje, mas facilmente qualquer mulher sabe como dói ficar precisando justificar as escolhas que fazemos e ter que explicar nossa vida em minúcias. Nós mulheres buscamos referência e identificação e não a imposição de experiências individuais. Ou seja, se você por ventura não tem o mesmo nome e CPF que a pessoa, seja mais ouvinte que inconveniente. A maternidade é lugar de acolhimento!

Voltemos ao tema central. A anestesia pegou rapidamente, lembro daquele líquido gelado na minha barriga, da sensação sem dor do bisturi cortando as primeiras camadas da minha pele. Foi como sentir a faixa nebulosa sair lentamente da minha frente. Em meio aos meus pensamentos, um choro forte rompeu a conversa dos médicos que riam levemente falando que já tinham a idade bem avançada. O choro que eu ouviria sempre que fosse solicitada, a nossa primeira comunicação foi estranha, eu senti o cheiro de mim mesma em alguém que não era eu. Olhei para aquele bebezinho de nariz empinado e fiquei me questionando como daria conta de cuidar, educar e ser a melhor mãe que poderia oferecer. Confesso que esperava amar loucamente aquele pequeno bebezinho indefeso, me apaixonar imediatamente logo que o visse pessoalmente. Mas me frustrei nessa expectativa. 

Eu confesso que esperava que um Amor louco nascesse logo junto com ele, mas não foi assim comigo. Eu amo meus filhos, muito profundamente, mas eu amo mais a cada dia, crescendo nesse relacionamento, nesse Amor a proporção do tempo. Ali com minha inexperiência vinha também a insegurança, a dúvida se seria a mãe que ele precisava. Eu olhava pra mim e me achava incapaz. É louco demais! Logo que cheguei no quarto, eu queria romper algo que tinham me falado muito antes de parir: Amamentar é outra batalha. Mais uma confissão: Não gosto de nada que determina em mim uma vivência de outra pessoa. Isso gera em mim uma gana por provar que eu sou capaz, que não vou permitir que a experiência do outro seja a minha também. Louca ou não, “Me dá meu filho, quero dar o peito pra ele, quero me conectar com ele, quero ter certeza que vamos vencer esse empecilho”. 

Ele veio pro meu colo, eu ainda deitada por conta da cirurgia, fiz um malabarismo e ele grudou no meu peito, bem certinho, como se fosse treinado pra fazer, e é! Meu peito ficou enorme, tinha muito leite pro bezerrinho, e ele tinha muita fome. Eu sei que isso não acontece com todas as mulheres, na fragilidade da inexperiência vamos recebendo uma série de diagnósticos e até mesmo de “pitacos” que nos ferem profundamente. Aplausos pras mães que amamentam em seu seio ou em uma mamadeira. Ser mãe não é uma competição, é uma experiência única e individual, inclusive quando se trata da mesma mãe e para os filhos que vierem. É tudo único, parece loucura, mas é a verdade!

Eu e o marido combinamos de não querer visitas! Só meus pais, meus irmãos e pessoas mais próximas souberam que o nosso garotinho tinha nascido. Graças a Deus, aquilo me garantiu muita tranquilidade para amamentar e dormir nas horas que se seguiram. Eu não comprei nem água pra quem veio visitar,(por favor, riam com minha rigidez inexperiente) os que vieram trouxeram coisas que precisávamos. Em nenhum dos meus outros partos tive essa tranquilidade(risos, e mais risos, porque a inexperiência é audaciosa, vulgo, ignorância). 

Eu preciso contar pra vocês que quando eu precisei levantar da cama a primeira vez pós cirurgia eu quase caí. Minha mãe comentou o que eu ia sentir, mas de longe imaginei isso. O choque em frente ao espelho foi ainda mais frustrante: “Cadê eu? Que corpo é esse?”. Eu chorei, chorei muito. Eu não queria que ninguém me visse, nem minha mãe, nem meu esposo. A primeira descoberta da transformação profunda que eu estava passando era aquela visualização. Hoje eu falo isso pra todas as pessoas que eu amo, porque foi algo que eu não conseguia visualizar e que era importante pra mim. Sei que a certeza de que o corpo volta a ser belo porque está totalmente preenchido pelo Amor e pelo seu empenho também, me abraçam. 

Agora, é hora de cuidar daquela criança, dou a minha vida por cada um dos que Deus me confiou, imagine se não daria o meu corpo e suas nuances! Como a maternidade me tirou da minha vaidade, do meu orgulho e principalmente do meu egoísmo, meus filhos me salvaram de uma vida totalmente sem Graças. 

Deixe um comentário

Veja também...