A perturbadora verdade por trás da foto de Stalin com uma criança

Sempre fez parte do comportamento político da então União Soviética editar alguns aspectos da história o máximo o possível, principalmente ao redor da imagem do temido líder Josef Stalin. No entanto, foi no final da década de 1930 que o governo mais se destacou em modificar a história quando começou a fazer isso com as fotografias do regime da época.

O que hoje poderia ser chamado de “photoshopers”, esses oficiais secretos do programa soviético tinham a tarefa de “desaparecer” com a imagem de personalidades famosas e oponentes políticos de Stalin de todas as fotografias, retratando o líder como o “único amigo verdadeiro, camarada e sucessor de Lenin, o líder da Revolução Bolchevique e fundador da URSS”. Nada muito diferente do que o facismo de Adolf Hitler fez na Alemanha.

A garota soviética

Ardan Markizov. (Fonte: Russia Beyond/Reprodução)
Ardan Markizov. (Fonte: Russia Beyond/Reprodução)

Era 1936 quando Ardan Markizov, um comunista ferrenho e devoto a Stalin, que trabalhava como Comissário do Povo da Agricultura do estado da Buryat-Mongólia, na Sibéria, quando foi escalado para integrar a delegação que se encontraria com o líder soviético. Sua paixão ao comunismo era tão grande que ele chegou a batizar sua filha de Engelsina, em homenagem ao revolucionário Friedrich Engels, e seu filho de Vladlen, em referência à Vladimir Lenin.

Engelsina, então com apenas 7 anos, herdara o amor do pai pelo líder e por isso insistiu tanto para ir junto com ele visitar o Kremlin. “Eu também queria ver Stalin e implorei a meu pai que me levasse”, revelou Engelsina, décadas mais tarde.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Foi durante um dos muitos discursos sobre a efetividade e progresso das propriedades agrícolas da União Soviética, que a garota decidiu que falaria com Stalin. Porém, ela também queria presenteá-lo, por isso pegou um buquê de flores e marchou até o líder, apesar dos protestos temerosos de seu pai.

Para a surpresa de todos, Stalin se mostrou muito feliz com o gesto de carinho de Engelsina. Colocada sobre a mesa pelo homem, ela entregou-lhe as flores e o abraçou, sendo homenageada por uma série de flashes das câmeras dos fotógrafos que eternizaram o momento. Stalin aproveitou para dar um relógio de ouro para a garota, enquanto os jornalistas já imaginavam as palavras “gentil” e “simpático” associado à imagem do primeiro-ministro nos retratos.

O revés dramático

(Fonte: Time Toast/Reprodução)
(Fonte: Time Toast/Reprodução)

Em 1937, tudo se transformou quando Ardan Markizov foi preso por Stalin durante os Grande Expurgo, porque o líder achava que, como tantos outros, o homem era um espião infiltrado trabalhando para o Japão. Isso, no entanto, não passou de mais um erro da mente neurótica de Stalin.

“Papai tinha certeza de que era um erro (de Stalin) e que logo voltaria para casa”, lembrou Engelsina. Ela aproveitou para escrever centenas de cartas para Stalin implorando misericórdia, mas ele não a ouviu.

Ardan Markizov foi condenado por expiação e baleado à queima roupa em junho de 1938, depois de muita tortura na prisão. Isso aconteceu com mais de 750 mil pessoas durante o Grande Expurgo, em que mais de 1 milhão de supostos traidores e opositores foram banidos ou enviados para os infames gulags. A mãe de Engelsina, Dominika Markizov, foi exilada no Cazaquistão e encontrada morta no mesmo ano. Isso porque Lavrenty Beria, chefe da polícia secreta soviética, recebeu uma carta em que era alertado sobre a possibilidade de a mulher tentar fugir usando Engelsina como “conexão” com Stalin.

(Fonte: Russia Beyond/Reprodução)
(Fonte: Russia Beyond/Reprodução)

Engelsina também foi eliminada, porém de uma maneira diferente. Uma vez que Stalin não podia ter sua imagem associada à filha de um “inimigo do povo” e nem todas as fotografias, monumentos e jornais poderiam ser destruídos, ele ordenou que mudassem a identidade da garota na foto sem tirá-la de lá.

Foi assim que Engelsina Markizov passou a ser Mamlakat Nakhangova para a história da União Soviética em todos os veículos de imprensa do mundo. A garota se mudou para Moscou, alterou o nome para Dorbeyeva e foi cuidada por uma tia.

Ela chorou a morte de Stalin, pois foi só depois que as pessoas começaram a voltar dos campos de trabalho forçado que Engelsina entendeu quem o líder realmente era. No entanto, o importante para ela foi ter ido para seu leito de morte em 2004, aos 75 anos, sabendo que o “melhor amigo das crianças” não era amigo de ninguém.



Fonte: MEGA CURIOSO

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