A solitária caminhada materna

Não acredite que ser solitário nesse caso é um lugar de tristeza, recobre as forças e dê o nome certo as suas habilidades. Não dispense as ajudas necessárias para bem realizar essa grande missão, mas lembre-se que é o lugar e o momento de ser e viver este tempo. Aos primeiros dias de um puerpério, momento que se segue logo após o parto, nós mulheres somos bombardeadas por hormônios necessários para esse novo tempo. Além de uma nova rotina, uma ligação que será construída com o pequeno ser que nos foi confiado e um resgate incessante por quem somos nos cai. É dessa solidão que muitas mulheres sofrem logo que um bebê chega, e mesmo que você nunca tenha se perguntado, há uma pergunta que tentamos compreender na profundidade do nosso ser: “E agora quem sou eu?”

Eu trato desse sentimento de solidão com afinco porque mesmo rodeado de pessoas, mesmo cheio de ajuda e com tantas novidades ali sendo descobertas, nós ficamos buscando aquele “eu” que éramos e o novo “eu” que acaba de renascer com a maternidade. A duras penas fui compreendendo quão valioso é o poder do auto-conhecimento e da aceitação de quem precisamos ir nos tornando a cada dia e que as relações começam a pedir um pouco mais de nós. As casadas há um desafio particular de saber separar o ser mulher de ser mãe. Para mim muitas lacunas foram preenchidas ao longo dos tempos e dos devaneios de reflexão, de busca incessante por mim mesma dentro desse oceano de novidades. Nesse tempo todo, mesmo que conversando, mesmo que rodeada de pessoas, partilhando experiências é uma construção solitária. Não há uma receita pronta, um livro que decifre tudo que precisa ser descoberto, e por mais que se tenham mil conselheiros, tudo o que irá descobrir, resgatar e construir é feito por nós.

Gosto de pensar nas minhas reflexões com praticidade, me faço perguntas básicas que me auxiliam a sair do caos aos poucos. Importante ressaltar que apesar da tentativa racional de buscar respostas existem hormônios circulando na sua corrente sanguínea e eles são pouco ou nada racionais. Existem também vitaminas, taxas e possíveis manifestações corporais que precisam ser levadas em consideração. Além disso, existe a tal da culpa materna, os seios que jorram ou não leite, as dores e a recuperação do corpo que acaba de passar por uma transformação. Tudo isso precisa ser administrado com compaixão e de fato, um silêncio solitário acompanha esse processo, que pode nos apavorar profundamente por vezes. De repente você é uma mulher recheada de muitas e muitas ligações neurais importantes para esse novo ciclo. Eu sou católica e por isso ponho minhas fraquezas em Deus, nos 3 últimos puerpérios foi o que me deu forças para me alegrar em cada processo.

Mas voltando a solidão materna, são muitas decisões, dúvidas, medo, principalmente, no primeiro filho, mas não pense que estará totalmente livre nos próximos filhos, porque cada um traz suas particularidades. E se ainda não buscou o conhecimento de si mesma, na maternidade você vai precisar descobrir nem que seja na prática. Afinal pra tomar decisões importantes é preciso saber exatamente o objetivo que pretende alcançar, e pra encontrar esse objetivo é fundamental saber quem somos de fato e de direito. Só assim é possível realizar o que é necessário.

Para tratar essa solidão materna quero encorajar você a viver sem pressa, é um tempo, um momento de construção. Não é possível fugir, não é possível deixar de encarar, é o trabalho laborioso. Vá aos poucos tateando esse novo “eu”, vá encontrando as belezas de estar sozinha dentro de si e nunca esqueça que nascemos sozinhos e precisamos encontrar alegria em estar nesse encontro profundo com nós. Não se apoie emocionalmente no seu filho(a), mas seja forte e corajosa, é esse o momento. Eu particularmente busquei nas leituras um apoio, e se há algo mais profundo e triste dentro desta vivência busque ajuda profissional, não tema ser cuidado e compreenda o quão valioso é a vida que está se erguendo dentro de si. Se você chegou até aqui nessa leitura, existe uma solidão necessária, e aos poucos você vai descobrir o prazer de encontrar essa linda menina que não é apenas uma, mas muitas e a mais incrível delas gerou uma vida.

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