‘Carne de ossos’: carcaça temperada, pé de galinha, pescoço e outros cortes de terceira também ficaram mais caros

A alta dos preços da carne refletiu nos valores dos cortes de segunda e de terceira. Açougues relatam que carcaça temperada, pé de galinha e pescoço, entre outras partes de boi, vaca e porco, tiveram um aumento de procura e também encareceram.

Não há dados nacionais sobre esses cortes. Em São Paulo, o pescoço de frango teve elevação de 15,79% no preço em setembro na comparação dos 12 meses, segundo a consultoria Safras e Mercados. A carcaça temperada de frango subiu 45%, o dorso, 60%. Entre os suínos, a maior alta foi no espinhaço (23,91%), que é a “coluna” do porco, e na orelha (20%).

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) não disponibiliza dados sobre desses cortes e a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se restringe a carnes de primeira e de segunda ou ao produto como um todo, no caso do frango e porco.

A realidade dos açougues
A Rede Mais Açougues, com unidades em 10 estados, diz que as ‘carnes de ossos’, como eles classificam as partes menos (ou nada) nobres, ficaram 100% mais caras entre o início da pandemia e agora.

Segundo Moscato, o confundador, com a alta da procura, foi preciso equiparar o valor desses cortes com o restante das carnes.

Ossos e a fome
Imagens de pessoas buscando ossos que costumavam ser descartados por frigoríficos e açougues (veja o destino ao fim da reportagem) viraram um retrato da realidade de famílias de baixa renda nos últimos meses.

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Mas, não é de hoje que a carne está cara, nem é recente o consumo de ossos como única opção para a população mais pobre, de acordo com o diretor-executivo da ONG Ação Cidadania, Rodrigo “Kiko” Afonso.

“R$ 170 é a média do Bolsa Família, com isso, vamos combinar, como compra comida para a família, paga o aluguel, roupa, transporte para arrumar emprego? Independente do preço da carne, já não poderiam comprar com o preço anterior”, afirma.

“Já tinha uma defasagem enorme do salário dessas pessoas. Com o aumento tirou toda a possibilidade dessas pessoas se alimentarem de arroz, feijão, carne e etc”.

O empresário conta que a venda de carnes de primeira, como a maminha, teve uma queda de 22%. Para ele, o consumo ainda é sustentado pelas unidades que ficam em regiões de classes A e B.

O abandono da carne vermelha foi a saída para 67% dos brasileiros economizarem nas refeições, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada em 20 de setembro.

A alta acumulada no preço da carne bovina chegou a 36% entre agosto de 2020 e 2021, segundo o IBGE. O frango encareceu até mais nesse período: 40,4%. O ovos subiram 20%,.
Consumo de carne no Brasil cai ao menor nível em 25 anos
“Tivemos uma mudança radical depois do aumento da carne. Eu vendia boi. Muita gente migrou para porco, frango, reduziu a quantidade de carne mais cara e o pessoal começou a reduzir carne mais em conta, sim”, relata Nazareth Aparecida, dona de um açougue em Esmeralda (MG).

“O salário das pessoas da minha cidade não é compatível. (Para) quem ganha salário mínimo está difícil comer carne. Vamos ser realistas, tem que migrar, reduzir gastos. Acho que esse está sendo o pensamento dos consumidores”, diz.
A também açougueira Dinabi Melanias, de Várzea Grande (MT), aponta que o acém – considerado carne de segunda – , o frango e o pescoço de galinha se tornaram os carros-chefes. Na loja de Juliana Miranda, em Uberlândia, os consumidores buscaram mais suínos e pé de frango.

Além disso, os miúdos, como o fígado, e os processados, como a salsicha, também tiveram uma boa procura, segundo o açougueiro Alvimar Gaspar, do Rio de Janeiro.

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