Cinco motoristas de app são assassinados em uma semana; empresas não assumem responsabilidade

Trabalhador e família só recebem assistência quando há comprovação de que o aplicativo estava ligado no momento do crime

Ao menos cinco motoristas de aplicativos foram assassinados no Brasil entre 6 e 13 de outubro. O número de homicídios reportados na imprensa foi o maior do ano, para um período de sete dias, e é mais que o dobro do que foi noticiado no primeiro semestre – segundo levantamento da TV Globo, foram 43 assassinatos entre 1º de janeiro e 6 de junho.

Pedradas, facadas, cadáver enterrado na areia. Para além das estatísticas, chamam atenção os indícios de brutalidade dos crimes mais recentes.

O assunto é um dos mais comentados esta semana em grupos de motoristas no Whatsapp, no Telegram e no Facebook – tanto quanto temas econômicos, como a alta dos combustíveis ou as taxas e condições impostas pelas plataformas, que são os mais frequentes.

Santa Catarina

O corpo de Patrick Costa, de 22 anos, foi encontrado em meio às dunas no bairro Rio Vermelho, em Florianópolis (SC), na noite do último sábado (9), após dois dias desaparecido.

O cadáver do motorista de aplicativo estava enterrado na areia, com sinais de golpes de faca no pescoço. Na última vez que ele se comunicou com a família, disse que estava saindo de casa para trabalhar.

A polícia investiga a possibilidade de latrocínio, porque os pertences não foram localizados.

A empresa 99 disse que ele não estava em meio a uma corrida no momento do crime.

Rio de Janeiro

O soldado Flávio Amaral, de 21 anos, foi morto a tiros no último dia 11 enquanto trabalhava, no contraturno, como motorista de aplicativo.

O crime ocorreu em Nova Iguaçu (RJ). Amaral levava dois passageiros para o bairro Dom Bosco e entrou por engano em uma comunidade.

De acordo com testemunhas, os assassinos são moradores que teriam se assustado com o veículo desconhecido e começaram a disparar. Um dos passageiros, Sebastião Filho, foi ferido na coxa e no pé, mas sobreviveu.

A 99 informou que Amaral não estava em uma corrida no momento do crime.

A multinacional estadunidense Uber informou que “dentre os casos citados pela reportagem, o único que teve relação com o aplicativo da Uber foi com o parceiro Flávio Amaral, que foi vítima da violência urbana que permeia nossas cidades.”

Também no Rio de Janeiro, foi assassinado a golpes de faca, no último dia 13, o motorista de aplicativo Heraldo Carlos de Souza.

Aos 52 anos, ele também era professor de teologia e pastor da Assembleia de Deus.

A reportagem não conseguiu confirmar, com as principais empresas de transporte por aplicativo, em qual plataforma ele estava cadastrado.

Minas Gerais

O corpo da motorista Margarete Nascimento, de 49 anos, foi encontrado com ferimentos na cabeça na madrugada de terça (12) no Parque Estadual da Serra do Rola Moça em Ibirité (MG), região metropolitana de Belo Horizonte (MG).

Nascimento era cozinheira e havia sido demitida três anos antes. O trabalho nos aplicativos 99 e Uber foi a alternativa que encontrou para sustentar as duas filhas.

Embora agasalhada, a vítima estava com os seios expostos quando foi encontrada pela polícia. Os exames, que confirmarão as circunstâncias do crime, ainda não foram divulgados.

A Uber informou à reportagem que o veículo que Nascimento utilizava no momento do crime não estava cadastrado no aplicativo. A 99 reconhece que ela era motorista parceira e apura o caso.

BRASIL DE FATO

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