Homem é queimado e morre no HUT após briga de casal em Teresina

Jéssica F. de S., mãe de quatro crianças, sendo a mais nova de apenas nove meses de idade, está sendo investigada sob acusação de ter matado seu (ex)-companheiro, homem identificado como Júlio Gabriel de Jesus Alves, de 28 anos, queimado por volta das 3h (madrugada) de segunda-feira (13.09) em uma residência da Quadra 08, imediações do posto de saúde do Conjunto Árvores Verdes, Vila Santa Bárbara, zona Leste de Teresina.

A reportagem  apurou duas versões de como o crime pode ter acontecido a partir de entrevista com moradores da localidade e interpretando documentos. A seguir será possível acompanhar a versão dos fatos descrita em relatório policial, a sustentação da Defesa e a versão relatada por vizinhos.

Vale ressaltar que Jéssica teve a prisão em flagrante substituída por prisão domiciliar, ficando, de certo modo, livre. A decisão foi publicada pelo Juiz de Direto da Central de Inquéritos na tarde de ontem (13), por volta das 16h23, quando Júlio ainda estava vivo, mas internado em estado grave no HUT, de modo que a substituição de uma prisão pela outra foi avaliada em contexto anterior ao atual.

Relatório – 11º Distrito Policial e Central de Inquéritos

“[…] os policiais estavam em rondas quando receberam uma informação de que havia um homem tentando agredir a família e atear fogo na casa, momento em que se deslocaram até o endereço e prontamente a flagranteada confessou ter jogado álcool e posteriormente ateado fogo no corpo de Júlio Gabriel. Inclusive, justificou tal ato em razão de Júlio ter pulado o muro da sua residência e deitado em uma das camas, mesmo ciente de medidas protetivas deferidas em favor de Jéssica”.

Até aqui o caso era tido como Homicídio Tentado, que ocorre quando o agente inicia a execução do delito, mas este não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Ou seja, tentado, porque a vítima ainda estava viva.

Diante dessas informações, seguiram para a casa da mãe de Júlio, local para onde a vítima correu após o atentado e chegando lá, viram queimaduras por quase todo o corpo, incluindo costas, braços e região genitália. Posteriormente foi atendido pelo SAMU e encaminhado ao HUT, oportunidade em que os policiais recolheram o boletim de entrada, no qual consta lesão grave com risco de morte.

Versão da Mulher e Defesa

“Em audiência, a flagranteada relata que na noite Júlio havia pulado o muro da residência e entre o horário de 00h até às 03h da madrugada, ficou ameaçando-a, bem como seu filho de apenas nove meses. Por isso, não aguentando mais sofrer as ameaças e, para se proteger e o filho, jogou álcool e ateou fogo” aponta o documento.

A Defesa sustentou pelo menos quatro pontos ao pedir o relaxamento da prisão da mulher, como o fato de que Jéssica teria se apresentado espontaneamente; o “reconhecimento do instituto do arrependimento eficaz, visto que a própria autuada teria chamado o socorro e evitado a consumação do crime; a tese de legítima defesa de terceiro, em razão da flagranteada relatar em audiência que apenas agiu após 03 (três) horas de ameaças, em que Júlio teria ameaçado de morte seu filho que conta com apenas nove meses; e Jéssica há muito tempo sofre com violência doméstica, o que teria resultado na prática do crime que ensejou o presente flagrante”.

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Prisão Domiciliar

O juiz da Central de Inquéritos levou mais em conta para o relaxamento da prisão em flagrante, o fto de Jéssica ter um bebê ainda de berço, que necessita de seus cuidados, como mostra o seguinte trecho do documento. 

“Diante das particularidades do caso, e com base nas peculiaridades da autuada, mãe de bebê de nove meses, sendo indispensável aos cuidados daquele, tem-se pelo cabimento da substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, cumulada, ainda, com a imposição de medidas cautelares diversas da prisão”, diz.

Versão da vizinhança

Repórter Ponto 50 apurou junto à vizinhança que a mulher tem quatro filhos, sendo três com Gabriel. Os moradores informaram que há algum tempo ela o denunciou por ter sido agredida e o homem foi preso. Pouco antes ela teria se envolvido com um taxista, o que motivou a agressão feita pelo marido. Gabriel teria passado cerca de cinco meses preso pelo crime de violência doméstica e Jéssica engravidou do taxista nesse período.

Quando Gabriel deixou a prisão, Jéssica já estava com o “barrigão”, como se diz no popular. Assim mesmo, o casal mantinha idas e vindas no relacionamento e também por conta das crianças, ele sempre visitava a mãe de seus filhos.

Vizinhos, que preferiram não se identificar, relataram à reportagem que no domingo (12), Jéssica foi vista em um comércio local tentando comprar álcool e gasolina. O comerciante pensou que ela queria o produto por conta da pandemia do novo coronavírus, mas ela deixou claro que precisava de bastante álcool porque disse que ia queimar muita coisa. O vendedor então informou que não tinha o álcool em grande quantidade.

Já durante a madrugada, Gabriel estaria em um bar bebendo com amigos. A mulher foi até o local e o chamou para casa. Ele foi e assim que dormiu, ela derramou o álcool nas partes íntimas, no corpo do homem, na cama e o incendiou. 

População Revoltada

Júlio Gabriel foi socorrido e encaminhado ao Hospital de Urgência de Teresina (HUT), porém com queimaduras graves. Ele passou a segunda-feira internado, mas à noite não resistiu aos ferimentos e foi a óbito.

Revoltada, a vizinhança foi até a residência de Jéssica já na manhã de hoje e destruiu o local, além de ter saqueado e sumido com pertences da mulher. Os populares também foram até à casa da mãe da acusada e chegaram a quebrar o portão.

Gabriel, como era mais conhecida a vítima, trabalhava com pedreiro e pintor, sendo bastante conhecido na região. O velório aconteceu na manhã desta terça-feira (14), no bairro Planalto Ininga, na casa da avó da vítima. O corpo foi enterrado à tarde.

 

REPÓRTER PONTO50

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