Pastor é indiciado por violação sexual mediante fraude contra fiéis em Goiânia

A Polícia Civil indiciou o pastor Esney Martins da Costa por violação sexual mediante fraude contra fiéis, em Goiânia. As investigações apontaram que o homem usava de argumentos religiosos para coagir as vítimas a aceitarem os abusos. A defesa dele nega qualquer crime e diz que as relações foram consentidas.

Esney Martins responde ao processo em liberdade. Ao todo, a polícia identificou oito vítimas, sendo uma delas uma adolescente de 16 anos.

Quatro casos prescreveram devido ao tempo em que aconteceram. Do restante, três foram para a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) e concluídos.

“É um estelionato sexual, quando o autor não usa nem de ameaça nem de violência, mas usa de artifício, engodo para manter a vítima em erro ou levá-la ao erro. Ele dizia que estaria ‘discipulando’ essas vítimas, isto é, mostrando o caminho de Deus e mostrando a cura espiritual”.

“Em nome de Deus, ele falava que elas teriam que aceitar fazer alguns atos sexuais, passar a mão, beijá-las, toques, para passarem por esse processo de cura”, disse a delegada Jocelaine Braz.
O último caso foi registrado na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). O g1 tenta confirmar se ele foi concluído ou ainda está em investigação.

Os abusos eram cometidos no Morro do Mendanha, no Morro da Serrinha e na própria igreja, a Renascendo para Cristo. Além disso, a delegada disse que, durante excursões religiosas, as mulheres sofriam constrangimento sexual. A polícia diz que o perfil era similar em todos os casos.

“Eram jovens, de 15 a 16 anos, que entravam na igreja. Eram moças bonitas, vulneráveis por ter alguma desestrutura familiar, pela ausência do pai ou vítimas de abuso sexual. Com esses dados, ele começava a tratá-las como se fosse pai e, em nome de Deus, dizia que ia tratá-las e que elas precisavam aceitar aqueles atos”, disse a delegada.
O advogado Danilo Vasconcelos, que defende o pastor Esney Martins, disse que todas as relações, caso tenham acontecido, foram de comum acordo com as mulheres.

“A defesa não concorda com esse relatório da delegada porque, até mesmo se tivesse havido o ato sexual, não houve fraude. Se tratam de três mulheres maiores de idade, pessoas que têm discernimento, não são vulneráveis. Se elas resolveram fazer sexo, ele não pode ser culpado por isso. Caso tenha havido o ato, foi de livre e espontânea vontade dos dois e isso não constitui crime”, afirmou.

Denúncia
O pastor começou a ser investigado após um ex-membro da igreja Renascendo para Cristo, coordenada pelo religioso, saber dos supostos abusos. Ao descobrir a existência de um núcleo de apoio às vítimas, ele levou o caso aos defensores públicos.

“Essas vítimas trouxeram relatos muito semelhantes dos casos, embora cada um tenha ocorrido em uma época. No início, elas começaram a frequentar a igreja e se sentiram acolhidas. Esse líder religioso se aproximava delas como uma figura paterna e começava a ajudar financeiramente, levar para fazer retiro”, disse a defensora pública Gabriela Hamdan.
Após ganhar a confiança das vítimas, começavam os abusos. “Começava-se com uma oração, com imposição de mãos como se tivesse pegando no coração e, aí, descia a mão. Era algo sutil, e as vítimas começavam a duvidar se estavam ficando loucas por estarem acusando um homem de Deus”, completou Hamdan.

Relatos
Uma das vítimas, que tem 43 anos, disse que, mesmo décadas depois do abuso, sente que nunca superou completamente o trauma.

“Deus me manteve, agora acho que vai fazer parte da cura, para eu me libertar disso, saber que não fui a única. […] Minha autoestima acabou, não cuido mais de mim, não acho que eu mereço. Acho que eu sou suja, mesmo com anos de terapia”, disse.
O pastor se apresentava aos fiéis como um intérprete da vontade de Deus. Foi com esse discurso que ele conseguiu molestar outra vítima, segundo ela relatou.

“Ele falava que era para o meu crescimento espiritual, que era para eu crescer na vida. Ele às vezes confunde até a mente da gente em acreditar que o que ele faz vem de Deus”, afirmou uma fiel.
Mensagens divulgadas pela polícia também mostram a abordagem do pastor a uma adolescente. Ele orienta a garota a se fingir de “doida” para a família caso eles desconfiassem de algo. Segundo a família, os dois tiveram relações sexuais.

“Oi, amorzinho. Te amo. E olha, não se deixe vencer, tá bom? Não dá ouvido e faz o que eu falei. Se você tiver que dar uma de doida, você vai lá naquelas imagens da sua mãe e quebra tudinho. Joga no chão e rola no chão”, diz a mensagem de áudio.

Deixe um comentário

Veja também...