Considerada “o mal do século”, a depressão tem tomado proporções inimagináveis e tem levado crianças, jovens e adultos a buscar ajuda psicológica. Com a pandemia e o isolamento social, o quadro se agravou. Além da depressão, outros problemas muito recorrentes apareceram, como por exemplo, a ansiedade.
A psicóloga clínica e Neuropsicóloga em formação, Maria Gracimeire, atende adolescentes e adultos e em seu consultório, tem presenciado frequentes casos de adolescentes e adultos com depressão. Em entrevista para o portal Diário do Piauí, a psicóloga explica como lidar com a depressão e quando procurar ajuda de um especialista. Confira:
Muitas pessoas se encontram em um quadro depressivo e não reconhecem isso. Quais são os principais sintomas desse comportamento?
Muitos acreditam que estão apenas tristes com algo que aconteceu e que o tempo irá curar; Existe graus de depressão, onde os prejuízos para o indivíduo podem ser leves, diante disso em muitos casos, alguns não procuram ajuda e se negam a pensar que possam ter depressão, tão somente quando a mesma atinge um grau que possa trazer prejuízos no lado profissional e pessoal, o indivíduo tende a procurar ajuda, a resistência é uma barreira entre tantos diante da doença, a falta de apoio dos que os rodeiam e do preconceito com o falar sobre; A pessoa para entender, precisa ter mais informação sobre a doença, assim, poderá compreender o que está acontecendo consigo, na maioria das vezes a depressão é vista como algo irrelevante e passageiro, mais em muitos casos podem levar a consequências que poderiam ser evitadas se tivessem mais informações;
Os índices de pessoas acometidas por depressão são crescentes não só no Brasil, mas também no mundo. Qual a diferença entre tristeza e depressão?
O Brasil é um dos maiores países com índices altíssimos de pessoas com depressão e ansiedade, se agravando no período da pandemia, a tristeza em si, pode ser caracterizada como algo passageiro, porém a depressão se ocorrer por um longo período e afetar a rotina da pessoa, no trabalho, na família e em atividades que antes lhe dava prazer, deve-se procurar ajuda profissional para uma avaliação, somente um profissional poderá diagnosticar, assim o profissional da psicologia poderá encaminhar o paciente ao especialista;
Há alertas sobre a incidência de depressão durante e pós-pandemia. Você acha que estamos discutindo as perdas que Brasil está vivendo?
No início da pandemia se acreditava que na clínica teria um aumento decorrente do luto que ocorria no país, o receio da doença, do medo da perda, houve a necessidade de contribuir com os profissionais que estavam na linha de frente, mediante a sua rotina diária de está trabalhando com uma doença desconhecida e sem tratamento; Pessoas com depressão se isolam, o isolamento em si contribuiu com o depressivo lhe colocando numa posição cômoda, não sair e interagir com outras pessoas; Durante a pandemia a terapia “on line” foi uma ferramenta de extrema importância para acompanhar os pacientes, as perdas foram sentidas e a retomada ao novo normal trás uma nova visão de como intervir em situações criticas;Da mesma forma, muito tem se falado sobre depressão entre crianças e adolescentes.A depressão não escolhe idade, em crianças deve ser observado a mudança no comportamento, pois nunca vão saber distinguir a tristeza da perda de um brinquedo a tristeza que pode desencadear uma depressão, os adolescentes estão descobrindo mundo, cheio de expectativas, querem ser aceitos pelos amigos, acolhido, querem destaques nas redes sociais, buscam ter mais “likes”, mostram sua rotina, descobertas, os pais são essenciais em qualquer fase de desenvolvimento e descobertas;
Pensando nessa incidência tão massiva da depressão, qual a importância das políticas públicas de prevenção?
Essencial para desenvolver programas e projetos que contribuam com desenvolvimento da saúde mental do individuo, principalmente daqueles que não tem acesso a saúde em muitas localidades, as pessoas têm que ser vistas e identificar que a saúde física é importante, mais a mental tão importante quanto, ambas se contemplam;
Exatamente por estarem deprimidos, a maioria leva bastante tempo para procurar ajuda, não é?
A pessoa com depressão raramente sem informação vai procurar especialista para tratar depressão, muitos são diagnósticos e não acreditam que estejam doentes, pois estão se sentindo bem e sentem apenas uma leve tristeza, que pode acabar ou aumentar, dependendo do que a ocasionou;
Que dicas dar aos familiares para ajudá-los a identificar o comportamento de um deprimido?
Observe a mudança de comportamento, mudanças fisiológicas, deixar de fazer o que lhe dava prazer, como atividades e saída com os amigos, mudanças de humor, o isolamento, acontecimentos que podem levar a tristeza, observar a duração, se for continua, dores pelo corpo, a falta de apetite ou comer demais, toda e qualquer mudança deve ser observada;
Por que as mulheres têm mais depressão do que os homens?
Os sintomas são mais acentuados nas mulheres, a cultura do cuidado, uma relação com o corpo, as responsabilidades impostas pela sociedade para a mulher com relação a família e o trabalho e o lado biológico, pode contribuir com essa diferença;
Fale um pouco da depressão ligada ao parto, especialmente desses quadros graves que se estabelecem no pós-parto quando mulheres chegam a matar seus próprios filhos?
O parto é um acontecimento de grande alegria para uma mulher, mãe, uma mudança na vida, a responsabilidade por outra vida, não saber como, se sentir culpada, tentar proteger e muitas vezes não conseguir sozinha, uma tristeza que pode levar dias, assim, uma conversa com médico é sempre a melhor escolha para entender e diagnosticar, procurando um tratamento se for necessário, lembrando que cada caso é um caso;
Na passagem da menopausa, muitas mulheres se queixam de que de repente caem numa tristeza incontrolável e apresentam forte labilidade emocional. Por que isso acontece?
A mulher passa por varias mudanças em seu corpo, mudanças hormonais que mexem com sua libido, devido a isso os riscos são maiores nas mulheres, a menopausa traz outros sintomas que devem ser aliviados, desde a hábitos novos, como atividade física a medicamentosa, com orientação de um especialista;
Em que faixa etária os homens estão mais predispostos a sentir depressão?
Acomete todas as faixas etárias, dos 18 anos aos 45 anos, uma fase de inicio da vida adulta e responsabilidades, cada fase com suas peculiaridades.
Depressão é uma doença crônica. Em muitos casos há períodos em que a pessoa passa bem e depois volta a ficar deprimida. Isso implica tratamentos muito longos?
A depressão tem vários fatores para ser desencadeada, seu tratamento é feito a longo prazo, com acompanhamento de um psiquiatra e psicólogo, além do próprio paciente que deve buscar realizar o tratamento e não largar e desenvolver atividades que possa contribuir com uma vida mais saudável;
Especialistas afirmam que uma pessoa pode nascer com predisposição para desenvolver depressão. Existe uma relação direta entre pais depressivos e seus filhos?
Sim, além do ambiente, pode gerar pré disposição; Não que seja uma regra, que todo pai depressivo, terá filho depressivo;
Quando aparece um quadro depressivo na família, como ficam as relações afetivas?
Podemos considerar o grau de estrutura familiar, que apoio a pessoa pode ter dentro da família, é de suma importância, poder contar com um membro da família, suas emoções vão está desreguladas, com pensamentos negativos em torno de sua vida e tudo que o cerca, quase sempre esperando que aconteça algo de ruim, nunca colocar o individuo em situações que possa acreditar que está sozinho, que deve buscar tratamento e segui-lo de forma correta;
Como você orienta os familiares nesses casos?Informação sempre, o que podem e como devem ajudar, lembrar que a dor do outro deve ser respeitada.
A atividade física ajuda?Mente sã, corpo são, o corpo fortalece a mente.
Dê um exemplo prático de quão incapacitante pode ser um quadro depressivo?O apoio da família é essencial, depressão não é frescura, não se deve pensar que inicia um tratamento e está “curado”, pode ocorrer episódios em vários momentos, o individuo que fica desacreditado perante a família e sozinho, a tendência é cometer graves mutilações, esconder da família, até que ocorra algo realmente sério e irreversível;
Num relacionamento sentimental a depressão é devastadora e frequentemente destrói casamentos, não é mesmo?
A depressão é devastadora em qualquer situação para o individuo, em uma relação, seu suporte é seu marido, namorado, quando não há compreensão e apoio, o casamento entra em crise;
O que se pode fazer neste mundo moderno para não cair em depressão?
É uma receita que não existe, por isso temos especialistas para ajudar quando ocorre, a mente é um divisor que não compreendemos, onde depositamos nossas crenças, nos cabe saber lidar com elas, tentar resolver os problemas de forma que não nos afete com tanta força, nunca deixaremos de ter problemas, nascemos sem eles, mais a experiência nos permite resolvê-los;
Maria Gracimeire – CRP 21/04592
