Famílias do sertão do PI recebem alimentos e Carmela, sem preconceitos

Nossa querida Carmela, comunicadora irreverente e alegre do rádio de Brasília, foi ao sertão do Piauí fazer entrega de alimentos a famílias carentes neste Natal e voltou de lá literalmente transformada pelo que presenciou: da miséria mais profunda que persiste nesse país à forma como foi recebida e aceita por pessoas tão simples, que felizmente não aprenderam a crueldade da palavra preconceito.

E você vai conhecer essa história de amor e solidariedade agora, nas palavras da própria Carmela, que gentilmente escreveu a matéria abaixo para o Só Notícia Boa:

Nos últimos 10 dias, a ONG Instituto Amigos do Caminho operou milagres pelo Sertão Nordestino, nos arredores do sul do Piauí. Contando com a ajuda de voluntários, o instituto distribuiu mais de 2 mil cestas básicas e construiu uma casa para uma família que vivia em um barraco

Ninguém me contou. Eu, Carmela – uma artista de Brasília que vive por levar “amor e humor” às pessoas – estava lá. E lhes digo: com certo medo, afinal faço performance de gênero e não tinha ideia de como as pessoas reagiriam a essa figura “diferente”. Mas vamos falar de quem importa primeiro.

Dona Solange morava com os dois filhos em um barraco de lona e chão de terra batida, em Corrente, Piauí. Cozinhava em um fogão de barro, com lenha, e contava com um buraco no chão, nos fundos do barraco, que usava como banheiro.

Em apenas quatro dias, viu uma casa de alvenaria se erguer diante dos olhos, com mobília própria, e os filhos puderam usar vaso sanitário pela primeira vez. Essa mulher não parava de chorar de alegria.

Famílias invisíveis e solidárias

Não muito longe dali, adentrando os difíceis acessos do sertão, são inúmeras as famílias invisíveis que vivem em situação similar, de extrema miséria. Caso de dona Amélia, que teve 23 filhos, ou de dona Ana, que vive com a filha em uma casa de barro, sem energia elétrica e sem água por perto, dependendo dos R$130/mês que ganha do governo.

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Mulheres que nunca viram um fogão na vida e crianças que sonham em comer uma maçã.

O que mais me impressionou nesse cenário drástico não foi a miséria, infelizmente, uma realidade recorrente do nosso país. Não precisamos ir até o Piauí para esbarrar com pessoas sem ter o que comer. Na Estrutural, no Distrito Federal, a poucos quilômetros do Palácio do Planalto, há quem viva sem qualquer alimento em condições sub-humanas, em meio a lixo, sem teto e sem esperança de um amanhã.

O que mais me impressionou foi a disponibilidade das pessoas em ajudar. Pessoas simples, sem muito o que oferecer materialmente, mas com tempo, vontade e disponibilidade em fazer o bem.

Um senso coletivo em prol de uma causa como nunca tinha vivenciado antes. Há quem cozinhe, há quem carregue, há quem construa. Todos em prol daquelas pessoas, chamadas de “esquecidos do Sertão”, mas muito bem lembradas por essas pessoas (e só por elas).

Outra constatação especial foi ver que apesar da ONG ser organizada por uma igreja (como acontece muitas vezes), não há qualquer moeda de troca. Não existe isso de que “só iremos doar se você frequentar nossa igreja” ou de que “só iremos construir sua casa se puder trazer fiéis para gente”. Nada disso, longe disso. Ao contrário.

A fome não tem religião 

Como sempre diz o pastor Ari (diretor da ONG), “a fome não tem religião”. Ele é o primeiro, inclusive, a bater na porta de outras igrejas, empresários, quem preciso for, para congregar em prol dos “esquecidos”. A ordem, como ele sempre diz, “jamais será acumular, mas repartir”.

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Assim, vi várias ações desenvolvidas por lá que englobam católicos, evangélicos e todo tipo de gente, auxiliando inclusive na quebra da segregação religiosa, em prol de um bem maior.

Preconceito?

E lembram do meu medo? Se transformou num dos maiores presentes que recebi. Em meio àquelas pessoas, sem estudo formal, sem acesso à informação ou consideradas esquecidas pela sociedade, fui tratada da forma mais carinhosa possível.

Os primeiros olhares de curiosidade, sem qualquer maldade, logo se transformavam em sorrisos largos, risadas e muito acolhimento. Elas não estavam preocupadas se eu era isso ou aquilo, nem munidas de preconceito. Só me deram o que tinham de sobra: amor. E logo elas, né? Alheias à sociedade, como costumam dizer. Mas qual sociedade? Essa que ensina sobre maldade e julgamento? Pois, então, eu prefiro eles, “os esquecidos do Sertão”.

Pelos nossos gestos, podemos ensinar os outros, principalmente as crianças, a julgar, segregar e odiar. Da mesma forma, podemos ensiná-las a respeitar, unir e amar. Preconceito se aprende. Amor e empatia também.

Histórico

E é essa a rotina da ONG que há 23 anos leva esperança aos “esquecidos do Sertão”, pessoas abandonadas pelo poder público, pela sociedade civil, que vivem nos confins do Nordeste, muitas vezes, sem acesso a energia elétrica ou até à água.

Ao longo de todos esses anos, só há uma única preocupação que permeia a equipe: arrecadar alimentos e construir casas para essas pessoas.

Cerca de cinco vezes por ano, eles saem de Brasília para as entregas. Minha primeira impressão, ao escutar sobre o trabalho, foi ficar com o pé atrás. Mas, muito graças às leituras do Só Notícia Boa, resolvi dar um voto de fé e confiança, acreditando que há pessoas capazes de fazer o bem “sem olhar a quem” e longe de benefício próprio.

Foi quando surgiu a oportunidade de acompanhá-los pessoalmente até o Piauí. E não fui somente para me assegurar sobre a idoneidade do trabalho, mas também para colaborar.

Convoquei meus seguidores nas redes (@vaicarmela) para que ajudassem na arrecadação de alimentos, na compra de cestas, e fiquei feliz ao ver que vários se comprometeram e acreditaram no projeto como eu. O resto é a história que você leu acima. Mal vejo a hora da próxima viagem e da chance de realizar novos sonhos.

Como ajudar

PIX do Instituto Amigos do Caminho: 03355866000103 (CNPJ).

Quer se voluntariar, incentivar, elogiar, ou conhecer mais sobre o projeto? Ligue 61 9 9967-7310.

Fonte – Só Notícias Boas

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