Mulher é condenada a 56 anos por matar grávida e arrancar bebê de seu ventre, em SC

Rozalba Maria Grime, 27 anos, foi condenada a 56 anos e 10 meses de prisão pela Justiça de Santa Catarina, na madrugada desta quinta-feira (25). Ela admitiu ter matado Flávia Godinho Mafra, 26 anos, que estava grávida, e retirar de forma brutal, com o uso de um estilete, o bebê do seu útero. O crime aconteceu em agosto do ano passado, em Canelinha. Desde então, Rozalba cumpria prisão preventiva no Complexo Penitenciário de Florianópolis.

A audiência de júri popular começou na manhã desta quarta-feira (24) e terminou por volta da meia-noite desta quinta (25). Um dos jurados passou mal durante a oitiva da primeira testemunha e teve de ser substituído. Assim, a sessão permaneceu suspensa até que um novo jurado fosse sorteado e convocado a comparecer ao júri, ainda durante a manhã. Em razão do imprevisto, o depoimento daquela testemunha foi integralmente reproduzido em vídeo para que o novo jurado pudesse ter conhecimento do que havia sido manifestado. Sete pessoas foram ouvidas durante o julgamento, além do interrogatório da ré. A sessão foi acompanhada por um pequeno grupo de familiares da vítima.

Parentes e amigos também fizeram uma concentração pacífica em frente à Câmara. Eles usavam camisetas com a frase “Você partiu para sempre! Mas viverá eternamente nos corações de quem te ama”.

De acordo com Tribunal do Júri de SC, Rozalba foi condenada pelos crimes de feminicídio qualificado por motivo torpe, com emprego de meio cruel, mediante dissimulação e para encobrir outro crime. Também pelo crime de tentativa de homicídio qualificado pela impossibilidade de defesa (em relação ao bebê). A ré foi condenada, ainda, pelos crimes de ocultação de cadáver, parto suposto, subtração de incapaz e fraude processual. “Ela não poderá recorrer dos crimes em liberdade”, informou o TJSC.

O crime chocou o país, principalmente os moradores de Canelinha, na Grande Florianópolis. Flávia estava grávida de 36 semanas quando desapareceu, depois de sair com uma amiga para ir a um chá de bebê, na tarde de quinta-feira, 27 de agosto. Depois disso, ela não voltou e nem respondia a ligações ou mensagens. Segundo a Polícia Civil de Santa Catarina, à noite, a amiga, que tinha dado carona a ela, foi até um hospital, afirmando que havia tido o bebê na rua. A equipe do hospital, no entanto, desconfiou e acionou a polícia, já que o bebê tinha cortes nos braços e nas costas e a mulher não tinha nenhum sinal de ter passado por um parto recente.

O corpo de Flávia foi encontrado na manhã desta sexta-feira (28), em uma fábrica de cerâmica abandonada. A vítima e a autora do crime possuíam laços de amizade. Em razão disso, a autora convidou a vítima para um suposto chá de bebê, em Canelinha, como pretexto para roubar a criança. “Durante o trajeto, ela desviou e entrou numa cerâmica abandonada. Ali, se armou com tijolo e desferiu os golpes na cabeça da vítima, fazendo que ficasse inconsciente. Depois, de posse de um estilete, abriu o abdômen da vítima e retirou a criança de seu ventre, indo para a via pública e simulando um parto espontâneo, natural, como se estivesse estourado a bolsa dela”, explica o delegado Paulo Freyesleben e Silva.

Na época, a criança foi internada em estado estável. A autora do crime confirmou o homicídio à polícia e foi autuada em flagrante. A polícia também autuou o marido da criminosa, mas após investigação, concluiu que ele não participou do crime e não tinha conhecimento do plano da esposa. De acordo com informações recebidas pela polícia, a acusada estava grávida, mas tinha perdido o bebê em janeiro. A partir de então, começou a planejar o crime.

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Em junho deste ano, a advogada de defesa disse que Rozalba estava “surtando na prisão e que tinha pensamentos suicidas”. “Me odeio”, escreveu ela em uma carta entregue para a advogada Bruna dos Anjos, que falou com exclusividade à CRESCER. A costureira já estava presa. “Buscamos este atendimento psiquiátrico e psicológico desde a prisão dela, mas até agora não fomos atendidos”, disse Bruna, na época.

Na carta, Rozalba agradeceu o tratamento na prisão, porém, afirmou estar com a mente perturbada. “Tenho tido pensamento suicida, quero falar sobre o que ‘tou’ [sic] sentindo, parece que vou surtar, preciso de atendimento médico, que me oriente e me ajude por favor. Eu sei que me odeio, mas eu tenho me apegado muito a Deus, ele irá me salvar ou me levar. Ajudem-me!”, escreveu.

A presa foi diagnosticada mentalmente sã por um laudo pericial da Justiça em novembro de 2020, mas o resultado foi contestado pela defesa. “Desde a infância, ela é muito mentirosa, já inventou câncer, fazendo a mãe comprar remédios, ir a hospitais, criando laudos falsos. Já adulta, perdeu um bebê e, depois de seis anos de casamento, não suportou quando o irmão anunciou que ia ser pai e decidiu inventar uma gravidez. Fez todo mundo acreditar. Dizia que tinha desejos, fizeram todo enxoval do bebê. Ela precisava manter essa mentira. Foi quando decidiu ter uma criança”, conta.

Para isso, lembra a advogada, Rozalba buscou vários meios. “Ela tentou ver se alguém queria vender uma criança. Foi ver se dava para adotar, se conseguia pegar num hospital, de uma mãe que não quisesse”, relatou.

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A advogada diz que Rozalba não pensou que alguém fosse descobrir o crime: “Ela só pensava em realizar o desejo dela de ser mãe, independente do que fosse necessário fazer. Tanto que ela foi muito cautelosa com o bebê. Cuidou dele, tirou foto com ele, amou ele por aqueles instantes. No depoimento, ela diz que não tinha a intenção de matar a mãe, ela só queria o bebê”.

Bruna explica que a família da ré tem poucos recursos financeiros, mas é muito bem estruturada, mantém os mesmos empregos há anos, inclusive a própria Rozalba, que atuou 12 anos na mesma empresa, “sem nenhum problema com ninguém, sem ficha criminal e com os estudos completos”. “Hoje ela vê o quão sem sentido foi o ato. Ela não diz ‘eu sou uma mentirosa’, mas não viu saída. Ela se arrepende muito do que fez. Se odeia, sabe que os outros a odeiam; sente muita vergonha”, afirma.

Da Redação

Foto: Facebook

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